quarta-feira, 24 de março de 2010

Abismo



Seus olhos eram negros como o abismo da noite. Olhar para eles era como se afogar. Como perder-se. Ora, eram o desespero de um túnel longo e sem fim. Ora eram o conforto do céu de noites sem Lua. Brilhavam, e eram apagados - porque apagavam-se ao perder o brilho (perdiam o brilho quando perdiam a felicidade).
Mas eram escuros. Escuros. E cheios de calor. Mas não o calor aconchegante. O calor que incomoda - o calor que não se gosta de sentir por muito tempo. Calorosos demais. E escuros. Tristes. Mas cheios de vida. E sem luz. Iluminavam tudo ao seu redor, mas ainda assim permaneciam escuros.
Eram como duas jabuticabas - quando estavam com fome. Mas não eram suculentos, por mais saborosos que fossem de se olhar. Eram cheios de mistério, mas ao mesmo tempo eram tão simples que chegavam a ser entediantes. O que eram aqueles olhos?
Ninguém sabia, de verdade. Julgava-se. Imaginava-se. Adivinhava-se. Experimentava-se.
Mas não havia quem fosse corajoso o bastante para jogar-se naquele abismo. Não havia.
Portanto, eles permaneceriam um mistério vazio e desconhecido, até que alguém se atrevesse a entrar neles e sua alma abraçar.
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(Ser modelo por ter olhos claros: muito salário. Sua professora de Linguística fazer poesia para seus olhos justamente por serem tão pretos: não tem preço.)

1 comentários:

Schneewittchen disse...

Você me humilha descaradamente cada vez mais. Está incrivelmente lindo e eu concordo plenamente, quem precisa de olhos claros? A bilogia comprova, são piores e sensíveis à luz. Quisera eu ter olhos tão lindos quanto estes ou escrever tão bem quanto você. :D
Juro, juro juradinho que um dia postarei contos tão maravilhosos quanto os seus e que a partir de hoje, superar o 'Dawn Of The Worlds' é a minha meta. BOMBA NELE!
Brincadeira. Enfim, você é meu exemplo, Liet. 8D

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